A saudável maluquice de Deyverson faz bem ao futebol
Há quem não goste, mas vejo mais prós do que contras no tresloucado centroavante do Galo
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Deyverson divide opiniões. Uma corrente de torcedores acha que ele mais atrapalha do que ajuda. Sou do grupo que entende que o centroavante do Galo presta um bom serviço ao futebol. Ele bagunça, diverte e entrega resultado.
A grande atuação de Deyverson na vitória do Atlético-MG sobre o Fluminense levou o Galo a uma semifinal de Libertadores depois de três temporadas. Seus dois gols foram a tradução do absoluto domínio da equipe mineira nos 90 minutos. Imediatamente, a memória de torcedores e analistas foi buscar dois arquivos importantes do centroavante maluquinho: o gol contra o Vasco, que deu o título brasileiro de 2018 ao Palmeiras, e aquele marcado na final da Libertadores de 2021, sobre o Flamengo.
Deyverson é um tipo de jogador improvável, daqueles que o futebol brasileiro teima em produzir. Meio desengonçado do alto de seu 1m87, ele está longe de ser um craque, mas sabe jogar bola e executar bem as funções de centroavante.
Em várias situações, o Tico e o Teco entram em conflito, e Deyverson sai da casinha. Ele simula sofrer faltas imaginárias, chora em comemorações de gols, provoca adversários e torcedores, arruma confusão. No final, dá uma entrevista pedindo desculpas para todo mundo e segue a vida.
Deyverson é o tipo de personagem que faz falta em um futebol cada vez mais frequentado por jogadores sem tempero, robotizados, controlados por empresários, estafes e postagens em redes sociais. Acima de tudo porque faz gols, o que é a premissa básica para alguém que joga em sua posição.
Em se tratando dele, pode-se esperar qualquer tipo de consequência ou reação. Ele tanto pode desandar a fazer gols pelo Galo, como ser expulso e levar uma suspensão. Faz parte do pacote Deyverson, e quem o contrata sabe disso.
Na temporada 2024, segundo dados do Sofascore, o atacante disputou 31 partidas entre Cuiabá e Galo. Foi a campo como titular em 21 delas, marcou 13 gols e deu oito passes para gol (participação direta em 21 tentos). Em média, precisou de 96 minutos para protagonizar uma ação que redundou em gol.
Tecnicamente, os gols marcados contra o Fluminense são um portfólio do que Deyverson faz de melhor.
No primeiro, ele mantém olhos fixos na bola, enquanto Scarpa prepara o cruzamento da esquerda, com curva para fora da área. Desacelera para que Thiago Santos passe do ponto de contato, busca o ângulo de ataque à bola e, quando sobe para o cabeceio, supera muito em impulsão a Thiago Santos, que é apenas cinco centímetros mais alto.
Para marcar o segundo, o centroavante busca o posicionamento na segunda trave, entre Antônio Carlos e o lateral Guga, esperando a curva de um cruzamento que vem da direita, feito por Hulk, que usa o pé esquerdo, com curva para dentro. Deyverson aguarda a bola quicar no chão e está no local certo, no tempo certo. O goleiro Fábio não consegue sair porque a bola está longe e há um zagueiro à sua frente. Aula de posicionamento de centroavante.
Não se trata de pedir Deyverson na Seleção Brasileira, longe disso. Apenas de ressaltar que, além de fazer gols, ele é uma boa história – para o bem e para o mal – em um momento carente disso no futebol brasileiro.
Créditos CNN
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